ANA emite alerta aos prestadores de serviço de abastecimento de água da Bacia do Rio Doce


12 ago/2014

Francisco Romeiro, especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA)

 Muito embora ocorram também nos períodos secos, as proliferações de cianobactérias (florações) nos últimos anos têm se agravado no início do período das chuvas no Rio Doce e em alguns de seus afluentes. Consequentemente, neste período que se aproxima, os cuidados devem ser maiores com a qualidade da água captada no rio e com aquela distribuída após tratamento. Nesse contexto, algumas medidas podem ser tomadas pelos prestadores de serviço de saneamento para minimizar os impactos de proliferações de cianobactérias na população atendida. Dentre elas, destacam-se:

1. Atentar a qualquer tipo de alteração nas características da água captada, como aumento da turbidez e da cor, formações de espuma e cheiro de terra molhada ou mofo.

2. Interromper a captação de água quando houver suspeita de contaminação por cianobactérias. O prejuízo com a interrupção da captação é muito menor do que o causado pela contaminação da rede de distribuição e reservamento de água.

3. Intensificar, de acordo com a Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, nesse período, as análises laboratoriais de cianobactérias e cianotoxinas na água do rio e na água tratada. Em condições normais, fazer análises semanais de densidade de cianobactérias (água do rio) e mensais de cianotoxinas (água do rio e tratada). Durante as florações (densidades superiores a 20 mil células/mL), fazer análises semanais de cianotoxinas, associadas a testes de toxicidade da água (do rio e tratada).

4. Manter rede de contato entre os prestadores de serviço de saneamento de cidades abastecidas pelo rio Doce e por outros mananciais afetados, a fim de comunicarem as ocorrências de cianobactérias e se prepararem para adequada resposta operacional.

5. Manter estreita coordenação com o setor de saúde, especialmente as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, responsáveis pela vigilância da qualidade da água no caso do agravamento da contaminação do manancial.

6. Utilizar os meios de comunicação disponíveis para informar à população abastecida sobre alterações na qualidade da água distribuída e os cuidados que eventualmente devem ser tomados. Lembrar que durante florações de cianobactérias tóxicas, devem ser evitados o contato direto com a água (natação e banhos no rio), o consumo de pescados e também as atividades náuticas, uma vez que estas podem levar à inalação de spray d’água contaminada com cianobactérias.

7. Preparar e manter acessíveis profissionais, materiais e meios de comunicação com o objetivo de informarem e instruírem a população sobre a qualidade da água distribuída, os riscos à saúde oferecidos pelas cianobactérias e como proceder em caso de contaminação da água. Assim, serão evitados os boatos, a desinformação e a insegurança sobre o uso da água.

8. Ao se detectar presença de cianotoxinas na água tratada, comunicar imediatamente às clínicas que fazem hemodiálise, às indústrias de injetáveis e à secretaria de saúde do município abastecido.

Os prestadores de serviço de abastecimento devem atentar ao fato de que o tratamento convencional da água nas ETA’s não remove as cianotoxinas. Assim, os planejamentos de operação de abastecimento de água devem, no curto prazo, estabelecer estratégias operacionais de tratamento e abastecimento alternativos e emergenciais e, no médio e longo prazos, avaliar a incorporação de mananciais alternativos e/ou novas tecnologias para as estações de tratamento (ex: filtros com carvão ativado e ozonização da água). Outras orientações e procedimentos podem ser encontradas na portaria do Ministério da Saúde nº 2.914/2011.