CBHs reúnem especialistas e gestores municipais para discutir estratégias do Rio Vivo


5 mar/2018

O objetivo foi apresentar soluções ligadas à diminuição da geração de sedimentos, recuperação de nascentes e promoção do saneamento rural e analisar, tendo em vista as necessidades locais, as melhores alternativas

Um encontro técnico reuniu especialistas, gestores municipais, representantes das empresas contratadas para a execução das ações ambientais e técnicos de entidades ligadas ao meio ambiente, em Governador Valadares, nos dias 26 e 27 de fevereiro, para a apresentação e análise de estratégias disponíveis de promoção do saneamento rural, incremento hídrico e diminuição da geração de sedimentos – principais eixos de atuação do Rio Vivo, conjunto de ações ambientais, desenvolvidos pelos Comitês da Bacia do Rio Doce, com o apoio do IBIO. O evento foi destinado às regiões de atuação dos CBHs Piranga, Piracicaba/MG, Santo Antônio e Suaçuí, que já foram contempladas pelo Rio Vivo, que deverá ser estendido às demais bacias afluentes do Rio Doce, em um investimento estimado de R$ 100 mil, até 2020. Para a presidente do CBH-Doce, Lucinha Teixeira, o encontro foi uma oportunidade de entender as necessidades locais para, assim, trabalhar as atividades ambientais de maneira eficiente e acertada, prezando pela utilização consciente dos recursos da cobrança, destinados à melhoria da qualidade ambiental da bacia. A analista de geoprocessamento do IBIO, agência de água da Bacia do Rio Doce, Gabriela Pereira, que coordenou as atividades, destacou que “a presença dos especialistas enriqueceu e amadureceu as visões, tanto sobre as tecnologias a serem adotadas para os projetos, quanto sobre os planejamentos para as ações futuras. O engajamento dos participantes também foi essencial para que alcançássemos o objetivo central do evento, que é a interlocução entre os municípios e os técnicos”.

Saneamento rural

Tendo como principal problema ambiental da bacia o lançamento de esgoto sem tratamento nos cursos d’água, o Rio Vivo, principal ação ambiental dos CBHs em andamento na Bacia do Rio Doce, prioriza, entre outros eixos de trabalho, a instalação de sistemas de tratamento de esgoto e, no caso das regiões contempladas pelo CBH-Piracicaba/MG, a implementação de sistemas de tratamento de água, para melhoria do saneamento básico na área rural. Para debater sobre o tema, o encontro técnico contou com a participação do professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcos von Sperling, que apresentou a experiência do Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR), em fase de elaboração pela universidade, a pedido da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Sobre o Rio Vivo, von Sperling enfatizou que “trata-se de um programa de grande vulto, por objetivar a implementação de esgotamento sanitário adequado para milhares de famílias na bacia, abrangendo um contingente populacional que normalmente tem menor visibilidade ao se definirem políticas públicas para o setor”.

Controle da geração de sedimentos

O assoreamento de cursos d’água, agravado pelo carreamento de sedimentos pela chuva, é também um dos focos de ação do Rio Vivo. O professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre Sylvio, apresentou aos participantes algumas técnicas disponíveis para o controle da geração de sedimentos, como a construção de barraginhas, caixas secas e implementação de terraceamentos, além de colocar em discussão a indicação e eficácia de cada uma das soluções. “A Bacia do Rio Doce é muito degradada e todo o processo erosivo, que é histórico e vem de décadas, é muito intenso. Não existe uma solução pronta, visto que temos diferentes aspectos edafoclimáticos a serem levados em conta. Por isso, as discussões são muito importantes para enriquecer e melhorar a visão sobre as decisões que nós temos que tomar em cada circunstância. E ainda é preciso se pensar na aplicabilidade dessas soluções e a viabilidade financeira, já que os recursos dos CBHs são limitados e precisam ser potencializados com investimentos externos”, lembrou Sylvio.

Recuperação de nascentes e produção de água

O encontro foi finalizado com discussões sobre o terceiro eixo trabalho no Rio Vivo: a recuperação de nascentes e promoção do incremento hídrico. Entre as questões abordadas, destacou-se a necessidade da implementação de ações de revegetação das áreas de recarga e questionou-se a eficácia do cercamento de olhos d’água como atividade isolada. O professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Ricardo Ribeiro Rodrigues, convidado para conduzir as discussões sobre o tema, refletiu sobre a importância de se pensar ações ambientais de maneira sustentável para o produtor rural, levando em consideração outros aspectos como a viabilidade econômica, a estabilidade familiar do agricultor, além da questão cultural e social. “Se a gente conseguir trabalhar, integrando as discussões e o conhecimento cientifico já disponível, levando em conta os fatores sociais, de forma ampla, e envolvendo os proprietários rurais, considerando a demanda desse proprietário, certamente teremos sucesso nas nossas propostas”, afirmou Rodrigues.

Conheça o Rio Vivo

Principal ação ambiental realizada por CBHs do Rio Doce, o Rio Vivo engloba diversas iniciativas que visam aumentar a disponibilidade hídrica, promover o saneamento rural e reduzir a geração de sedimentos em estradas rurais. O programa já está em andamento nas áreas de atuação dos CBHs Piranga, Piracicaba, Santo Antônio e Suaçuí, mas a meta é estendê-lo a toda a Bacia do Rio Doce, com previsão de investimentos de cerca de R$ 100 milhões, até 2020. A iniciativa reúne três ações realizadas pelos Comitês da Bacia do Rio Doce: Programa de Controle das Atividades Geradoras de Sedimentos (P12), Programa de Saneamento Básico (P42) e Programa de Recomposição de APPs e Nascentes (P52). A primeira etapa contempla o diagnóstico das propriedades rurais e os projetos das intervenções ambientais. Posteriormente, com base nas informações coletadas, serão implantados projetos de recuperação de nascentes – por meio do cercamento e revegetação – e de remediação de áreas degradadas geradoras de sedimentos, com foco em barraginhas, além de sistemas de tratamento de esgoto – na região contemplada com recursos do CBH-Piracicaba, especificamente, também serão construídos sistemas de tratamento de água.

26/02

27/02